domingo, 7 de setembro de 2014

Artigo: O que mais falam os números?

O Datafolha divulgou nova pesquisa no dia 03 de setembro de 2014 sobre a disputa para o governo do Ceará. A pesquisa mostrou uma importante mudança em relação àquela divulgada no dia 14 de agosto. Da primeira para a segunda pesquisa, Eunício Oliveira (PMDB) caiu de 47 para 41% das intenções de voto e Camilo Santana subiu de 19% para 31%, alteração dentro das expectativas anunciadas em análise anterior.

Os números divulgados não mostram só avanço de Camilo e queda de Eunício, mas outros aspectos importantes para se compreender o que se operou no cenário da disputa eleitoral nos últimos dias e para se fazer projeções para um futuro próximo.

Primeiramente, o eleitor deve saber que o Ceará tem 6,2 milhões de eleitores aptos a votar na próxima eleição do dia 05 de outubro. Considerando que 15% desses eleitores ainda não se decidiram em quem vão confiar para receber seu voto e 8% vão preferir anular o voto, apertar na tecla branco ou simplesmente não votar, o Ceará passa a contar com 4.774.000 eleitores disputados pelos postulantes ao Palácio Abolição.

Assim, nos 20 dias que separam as duas pesquisas, Camilo Santana saiu de um universo de 907.060 (19%) pessoas que lhe confiavam o voto para 1.479.940 (31%), um crescimento de 571.597 eleitores. Esse aumento indica que a cada dia que passava Camilo Santana ganhava 28.597 apoiadores para a sua candidatura.

O candidato Eunício Oliveira, por seu turno, perdeu 14.322 votos/dia, pois saiu de 2.243.780 (47% dos 4.774.000)para 1.957.340 (41%), o que representa uma perda 286.440 votos em 20 dias.

Somando-se os votos que Camilo Santana ganhou com os que Eunício Oliveira perdeu, a diferença entre os dois candidatos diminuiu em 42.919 a cada dia. Como a vantagem de Eunício sobre Camilo é de 10 pontos percentuais (477.400 votos), se o ritmo de crescimento de Camilo e de queda de Eunício se mantiver, em 12 dias os dois candidatos estarão empatados, com ligeira vantagem para Camilo Santana.

Outro fator a se considerar é a drástica redução na rejeição de Camilo Santana, que passou de 30 para 20%, apenas um pouco acima da rejeição de Eunício Oliveira, que se manteve inalterada de uma pesquisa para outra. Assim, para cada ponto a menos na sua rejeição, Camilo Santana ganhou 57.194 votos, um crescimento extraordinário.

Com esses novos números, o 2º turno fica praticamente garantido, pois a diferença entre Eunício Oliveira e todos os outros candidatos é de apenas 4 pontos percentuais. Oscilando no limite da margem de erro, que é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, Eunício Oliveira pode ter 38% e os outros candidatos, 40%, ficando assim tecnicamente definido que haverá 2º turno no Ceará.

Na pesquisa espontânea, em que o eleitor responde sem que lhe sejam mostrados os nomes dos candidatos, Eunício tinha 17% na primeira pesquisa e passou para 19%; Camilo Santana tinha 7%, agora tem 18%. Em outras palavras, a situação anterior em que Camilo se encontrava na espontânea, bem como sua rejeição, era fruto de não ser conhecido pelo eleitor.

Eliane Novais não conseguiu se beneficiar do crescimento de Marina Silva e passou de 7% para 4%, ao passo que Ailton Lopes caiu de 4% para 2% das intenções de voto, ao mesmo tempo em que se tornou o candidato mais rejeitado de todos, com 28% de eleitores que não querem votar nele de jeito nenhum.

É óbvio que pesquisa é momento, e que projeção pode não se confirmar, no entanto o novo quadro eleitoral no Ceará acende um alerta na campanha de Eunício Oliveira, que não consegue o mesmo desempenho, no tocante à estabilidade, do seu candidato a Senador Tasso Jereissati, cuja situação permanece inalterada. Pior do que montar estratégias de campanha é ter de modificá-las ao longo do processo, e parece que Eunício vai ter que recorrer a isso se não quiser continuar perdendo 14 mil votos por dia.

Prof. Dr. Nabupolasar Alves Feitosa
Doutor em Ciências Sociais: Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

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