Ex-presidente João Goulart, em foto de 1961
(Foto: Arquivo/ Estadão Conteúdo)
(Foto: Arquivo/ Estadão Conteúdo)
O advogado da família e neto do ex-presidente João Goulart, Christopher
Goulart, comemorou a decisão da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e do
Ministério Público Federal (MPF) de pedir a exumação do corpo do avô,
morto em 1976 durante exílio na Argentina. Segundo ele, o procedimento
pode significar a comprovação de uma “versão oficial mentirosa” e vai
acabar com uma dúvida histórica levantada sobre a morte de Jango, além
de abrir caminho para elucidar outras suspeitas sobre o período da
ditatura militar no Brasil. O corpo do ex-presidente está sepultado no
município de São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
“Vamos acabar com uma dúvida que sempre existiu. Se ficar comprovado
que ele foi assassinado, poderemos comprovar uma versão oficial
mentirosa. Isso contribui para restaurar a verdade, a justiça no nosso
país. Já estamos em uma terceira geração. É importante que saibamos o
que realmente aconteceu”, afirmou. “É uma série de questões que estão relacionadas a esse caso. Coisas ainda desconhecidas, informações desencontradas”, disse.
A exumação ainda não tem data para acontecer, segundo Christopher. O neto de Jango disse que foi informado pela procuradora federal Suzete Bragagnolo de que o
prazo dado pela Comissão da Verdade é de três meses. “É uma estimativa
que se tem. O resultado, com todos os exames, apontando o que realmente
aconteceu, pode demorar um ano”, relatou. O Ministério Público Federal
informou que a procuradora irá se manifestar ainda nesta sexta-feira.
Ainda não há uma definição, disse Christopher, se haverá uma
solicitação oficial à Justiça ou se o procedimento obedecerá outro
trâmite legal. A tendência é que a exumação conte com o auxílio de
peritos argentinos e uruguaios. Um perito gaúcho também será consultado
para ajudar no processo. “Queremos saber se realmente poderemos chegar
num resultado conclusivo”, acrescentou o neto de Jango.
Entenda o caso
A família de João Goulart já havia manifestado o desejo de exumação do corpo do ex-presidente durante audiência pública da Comissão da Verdade em março deste ano, em Porto Alegre. Na ocasião, o governador Tarso Genro lembrou sua atuação como ministro da Justiça e falou sobre a solicitação feita à Polícia Federal, em 2010, de um inquérito para investigar a morte de Jango. A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, também defendeu a investigação no Ministério Público Federal, onde o processo tramita desde 2007.
A exumação deve apurar a suspeita de que Jango tenha sido assassinado
por envenenamento, em dezembro 1976 durante exílio na Argentina, o que
contraria a versão oficial de que ele foi vítima de um ataque cardíaco.
Uma cápsula teria sido colocada no frasco de medicamentos que Jango
tomava regularmente para combater problemas no coração.
O plano para a morte do ex-presidente teria sido executado por agentes
da ditadura uruguaia durante a Operação Condor (uma aliança entre as
ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir
opositores dos regimes), a pedido do governo militar brasileiro. Os
militares suspeitavam que João Goulart estivesse planejando sua volta ao
Brasil por ter recuperado seus direitos políticos.
G1
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