
O cultivo de algodão transforma a paisagem do local. O branco se espalha na extensa área e desperta a atenção de quem passa na estrada de terra em direção à região do Baú. Para a geração mais jovem, a lavoura é motivo de surpresa e admiração. Para os agricultores que produziram e trabalharam nos campos de algodão, o sentimento é de saudade e de lembrança de uma época em que havia riqueza no campo e trabalho o ano inteiro.
Família
Este é o quarto ano seguido que os irmãos Erosimar e Francisco Rufino de Lima (Mazim) fazem o cultivo de algodão no Sítio Minas, nas proximidades da Lagoa de Iguatu. Os dois são oriundos do Município de Acopiara, onde dispõem de extensas áreas de terra e de indústria de beneficiamento de algodão. Para reduzir o custo de produção, os irmãos Rufino optaram pela mecanização do plantio e da colheita. O trabalho é facilitado graças às terras planas que a região de Iguatu dispõe.
Pouca chuva
O produtor, Virgílio Holanda, filho do Francisco Rufino, trabalha com o pai e o tio, na produção de algodão neste Município. "Este ano, faltou chuva no mês de maio e isso afetou a safra", disse Holanda. "O índice de pluviometria foi até bom, mas foi irregular". Os produtores esperavam uma produtividade média de 2.500 Kg por hectares, mas caiu para 1.500 Kg.
A colheita começou há uma semana e deve prosseguir até a primeira quinzena de setembro. "A mecanização permite um investimento mais baixo, reduzindo o custo de mão-de-obra", diz Holanda. Duas máquinas fazem o serviço, substituindo o trabalho de dezenas de operários.
Transgênica
Os produtores optaram pelo cultivo de uma semente de algodão transgênico, ´BTU´, liberada para cultivo no Brasil, resistente ao ataque da lagarta da folha, uma das principais pragas do algodoeiro, ao lado do bicudo e da lagarta da maça.
Para Virgílio Holanda, o preço foi o principal fator que desestimulou o cultivo de algodão no sertão cearense. "Se houver uma reação como estão prevendo, muitos podem voltar a plantar. No Cerrado, em Mato Grosso e Bahia, a cotonicultura foi ampliada e o cultivo é feito em larga escala, por grandes empresas". Atualmente, a arroba é comercializada por um preço entre R$ 16,00 e R$ 20,00.
O cultivo do algodão no sertão caracteriza-se por ser feito em áreas pequenas, produtores descapitalizados, plantio e colheita manual, baixo investimento tecnológico e irregularidade das chuvas. No cerrado, o plantio é feito em larga escala por grandes empresas, intenso uso de mecanização e maior regularidade de precipitações ao longo do ano. Holanda observa que mesmo diante das adversidades, o cearense que produz algodão é um herói. "Infelizmente, a maioria desistiu, abandonou as terras e o cultivo, mas eu acredito que apesar das dificuldades, dá certo. Estamos há quatro anos insistindo, tentando e já tivemos bons resultados nessa área". O trabalhador rural, Pedro Silva, lembra da época em que trabalhava nas roças de algodão. "Nunca faltou trabalho, no plantio e na colheita, mesmo quando o ano era fraco de chuva", disse. "Comecei a trabalhar com meu pai, aos 13 anos, na fazenda de Manoel Matias Costa. "Quando era para colher, toda a família trabalhava e a renda era maior".
Diário do Nordeste
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