quarta-feira, 23 de abril de 2008

Cariri recebe ex-cangaceiros

O casal de ex-cangaceiros, Moreno e Durvina, chegou ontem à cidade de Brejo Santo, onde vai ficar dois dias com o objetivo de rever familiares, bem como receber homenagens de autoridades locais. De acordo com o vereador Miram Basílio, está marcada para hoje, às 9 horas, uma audiência pública na Câmara Municipal de Brejo Santo, com a presença dos dois ex-cangaceiros. O parlamentar justifica que eles fazem parte de um fenômeno social dos mais importantes para o Nordeste brasileiro, o cangaço. Por isso merecem o reconhecimento da cidade.Moreno, 97 anos e Durvalina Gomes, a Durvina, 94, são os últimos remanescentes de um pequeno grupo de 16 cangaceiros e policiais, que ainda estão vivos. Estes sobreviventes foram descobertos pelo cineasta cearense, Wolnei Oliveira, que está concluindo um documentário com o depoimento dos últimos integrantes da história do cangaço.A volta de Moreno a Brejo Santo é um reencontro com um passado que o cangaceiro tenta esquecer. Antônio Inácio da Silva, conhecido por Moreno, deixou um rastro de lutas sangrentas na terra onde passou a sua infância. Saiu de lá escorraçado, em 1939, um ano depois da morte de Lampião.Hoje, 70 anos depois, volta como herói. Não fala sobre seus antigos desafetos. Recorda da primeira professora, Pedrosinha Viana, mas lamenta não ter apreendido a ler com ela. Recorda também de Antônio de Generosa, um antigo fogueteiro que fabricava fogos para animar as festas da cidade. Cita alguns nomes que fizeram parte de sua infância, entre os quais, o ex-prefeito Zeca Matias e alguns colegas de escola, amigos da infância.Entre os familiares, sobrinhos e primos, Moreno procura relembrar os nomes dos sítios de antigamente, quando ele era o terror da região. Mas sua vida está mais ligada ao cangaço. O primeiro homicídio foi praticado quando ele tinha 16 anos. Daí pra frente era um tiroteio atrás do outro. “Tinha dia que eu participava de dois tiroteios”, relembra.“Durante o tempo em que eu fui cangaceiro, eu nunca dormi em casa, foi só no mato, feito bicho bruto”. Ao recordar a vida ao lado de Lampião, Moreno diz que, na fuga do Ceará para Minas Gerais, margeando o Rio São Francisco, sua companheira, Durvina, foi picada por uma cobra. O contraveneno lhe foi enviado por um padre.Em Minas Gerais, o cangaceiro mudou de nome. Passou a ser chamado de Antônio Souto. “Quando eu cheguei aqui, fui trabalhar de machado, cortar lenha para a Central (Estrada de Ferro Central do Brasil). Depois fui plantando roça, criando alguns porcos e fui trabalhando na lavoura. Fiz farinha durante muitos anos, vendendo na cidade”, diz ele, complementando que terminou sendo dono de cabaré, o que lhe valeu a separação temporária de Durvalina, o amor que foi nascido na Caatinga entre um tiroteio e outro.

Um comentário:

José Mendes Pereira disse...

Há dois anos, o Brasil ainda via um casal de remanescentes da Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia. Hoje já não mais estão no meio dos estudiosos e pesquisadores, que tanto os paparicaram (no bom sentido), os que com suas maldades, fizeram uma história tão linda que é a Literatura Lampiônica.
Se não fosse a informática, esta história ficaria adormecida nos apontamentos dos muitos escritores e pesquisadores, devido às dificuldades que os estudiosos enfrentariam para transmitir e se expandir ao mundo inteiro.
Sou um leitor da saga de Lampião por um pouco mais de dois anos, e vi que Moreno e Durvalina deveriam ser chamados de “CASAL VINTE”.
Nenhum casal de cangaceiros chegou a viver 70 anos junto, compartilhando as mesmas dores, os mesmos pensamentos de quando andavam nas caatingas do nordeste brasileiro.
Serem ou não serem maldosos, isso é coisa para o supremo tribunal do universo julgá-los. Isso não nos cabe. Somente ele é que tem condições de puni-los ou inocentá-los de uma vez por toda.
É claro que Lampião e Maria Bonita foram os mais admirados pelas nações do mundo inteiro. Mas este casal foi vitorioso por viverem muito. Durvalina 93 anos. E Moreno 100 anos vividos. Que sorte hein! Viveram sob a mira de muitas armas de policiais que os procuravam para por fim as suas vidas. E mesmo assim,alcançaram longos anos de vida, onde milhares, mesmos protegidos e muitas vezes escondidos, não receberão de Deus esta dádiva.
Parabéns, Moreno! Você foi um herói da saga de Lampião.
Parabéns, Durvalina! Você foi e será um exemplo de mulher corajosa, por ter acompanhado durante setenta anos uma fera humana. O Moreno.
José mendes Pereira - Mossoró-Rn.