Marina Silva já se declarou pré-candidata à presidência pela Rede nas eleições de 2018. Ela ainda não decidiu, no entanto, quem será seu vice e nem qual será sua chapa. O que ela sabe é que não fará como em 2014, quando, após perder o primeiro turno, apoiou o candidato Aécio Neves (PSDB) na disputa final com Dilma Rousseff (PT). Em entrevista ao Pânico na Rádio nesta segunda-feira (23), ela defendeu a investigação do tucano, cuja abertura foi autorizada em votação no Supremo Tribunal Federal, e ressaltou que não faria mais nenhuma aliança com ele.
"Na época que declarei meu voto, nenhum de nós tinha as informações que temos hoje. Quem votou no Aécio não tinha, quem votou na Dilma não tinha. Se tivésssemos, jamais teríamos declarado apoio a nenhum deles. Eles praticaram os mesmos crimes contra os recursos públicos. A diferença é que não tenho a lógica do 'rouba, mas é meu amigo'. 'Rouba, mas faz reformas'. Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Defendo o fim do Foro Privilegiado para isso. Sabe quem sugeriu que o Aécio fosse ao conselho de ética? Eu. Só que tenho uma diferença. Não trato justiça como vingança. Justiça é reparação. Para o Estado e para a pessoa. A pessoa tem que parar de fazer o mal. E roubar não pode ser bandeira política. Não roubar é o que se exige de qualquer um. O discurso da ética não pode ser bandeira. O que pode ser é o que fazer para prevenir e punir a corrupção. Quando existe um político muito poderoso, desconfie. Em uma república ninguém tem tanto poder. A Lava Jato está obrigando a mudar", disse.
Aproveitando o assunto, Marina comentou a atual polarização do cenário político brasileiro. Adotando um dicurso conciliador (que, por sinal, deve ser sua aposta para o processo de 2018), declarou que essa dualidade não é novidade na história do país, mas parece ganhar ainda mais força com passar dos anos - o que não pode trazer benefícios a ninguém.
"A polarização levou a extremos. O Brasil é historicamente polarizado. Vivemos a polarização colônia/metrópole, império/república, liberdade/escravatura. Temos uma raiz polarizada. Depois veio Arena/MDB, PT/PSDB. Só que essa polarização já nos levou ao fundo do poço. Agora, se transformarmos em ódio, vai nos levar a um poço sem fundo. Já nos roubaram muita coisa, querem nos roubar nossa união. Não vamos chegar a lugar nenhum brigando. Antes a gente divergia, mas sentava na mesa do bar com aquele que pensava diferente. Hoje nem sentamos no banco da igreja. Nem sentamos no almoço em família", criticou.
"O Brasil é maravilhoso porque é diverso. Nosso sonho deve ser de ter um país próspero, justo, sustentável, democrático e diverso. Somos um país com 220 povos e 180 línguas. Temos 28 povos que nunca foram contactados por brancos! Nossa maior riqueza é a diversidade. É a capacidade de conviver com a diferença mesmo diante injustiças. Não podemos perder essa raiz de união e solidariedade. Eu vivi em periferia, morei no seringal. Lá nós só sobrevivemos graças à união. Um vizinho empresa sal ou açúcar ao outro, uma mulher fica com o filho da outra para procurar emprego", completou em seguida.
Durante a entrevista, a convidada falou também sobre sua postura perante a privatização de empresas públicas de alta relevância para a sociedade brasileira, como a Petrobras e a Eletrobras, defendeu a Operação Lava Jato e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, explicou seu suposto "sumiço" nos últimos anos e revelou o que tem a dizer até o momento sobre rumores de uma possível chapa com Joaquim Barbosa.
"Conversei com o ex-ministro duas vezes. Uma delas foi quando ele ainda era presidente do Supremo. Outra quando teve aquele episódio lamentável do Renan Calheiros dentro do Congresso se recusando a cumprir uma decisão. Apenas conversamos naqueles contextos. Houve outra vez, na verdade, quando tive um problema de saúde e ele me ligou perguntando como eu estava. De lá para cá, não conservamos. Respeito a decisão de ele ser candidato. É legítima. Se o PSB decidir isso, ele vai dar uma contribuição ao debate (...). Eu dialogo com o PSB, com todos os partidos que caminharam comigo, mas sempre com respeito. Se ele quiser ser candidato é legítimo. Quanto mais estrelas no céu, mais claro é o caminho", concluiu.
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