quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O que significa para o Brasil a perda do grau de investimento? ENTENDA

O Brasil perdeu o grau de investimento na classificação de crédito da Standard and Poor's (S&P), informou a agência de classificação de risco nesta quarta-feira (9). A nota foi rebaixada de "BBB-" para "BB+", com perspectiva negativa.

O Brasil ainda possui grau de investimento pelas outras duas agências de risco internacionais, a Ficth e a Moody's.

O receio de que o país perdesse o grau de investimento – espécie de selo de bom pagador e "porto seguro" para investidores – influenciou a tendência de alta do dólar e de queda da Bovespa nos últimos meses.

Mas, agora que isso aconteceu, qual é o efeito da perda do grau de investimento para os brasileiros?

Veja abaixo 6 perguntas e respostas sobre o risco de rebaixamento do Brasil. Para elaborar as respostas, foi ouvido Alex Agostini, presidente da agência de classificação de risco Austin Rating, Bruno De Conti, do Centro de estudos de Conjuntura Política Econômica da Unicamp, e Judas Tadeu Grassi Mendes, da EBS Business School.

O que é grau de investimento?

O grau de investimento é um selo de qualidade que assegura aos investidores um menor risco de calotes. A partir da nota de risco que determinado país recebeu, os investidores podem avaliar se a possibilidade de ganhos (por exemplo, com juros maiores) compensa o risco de perder o capital investido com a instabilidade econômica local. O Brasil conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais Fitch Ratings e Standard & Poor’s em 2008. Em 2009, conquistou a classificação pela Moody’s.

Para que servem as notas de crédito das agências e o grau de investimento?

Alguns fundos de pensão internacionais, de países da Europa ou Estados Unidos, por exemplo, seguem a regra de que só se pode investir em títulos de países que estão classificados com grau de investimento por agências internacionais. Por isso, essa "nota" permite que o país receba recursos de investidores interessados em aplicar seu dinheiro naquele local.

“O propósito principal das agências é justamente atribuir uma nota que indique ao mercado financeiro a possibilidade ou o risco de que o emissor de determinado título de dívida venha a não cumprir com o compromisso de dívida, ou seja, venha a dar um calote”, diz Bruno De Conti.

Para justificar a perda do selo de bom pagador do Brasil, a Standard and Poor's afirmou que os desafios políticos que o Brasil enfrenta continuam a pesar na capacidade do governo de submeter ao Congresso uma proposta de Orçamento consistente com a política de correção prometida no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

A proposta do Orçamento 2016 mostra “mais um desafio para a meta fiscal" menos de seis semanas após a última revisão da nota brasileira. Para a S&P, esse desafio “poderia significar 3 anos seguidos de déficit primário e aumento contínuo da dívida se os rendimentos subsequentes ou medidas de cortes de gastos não forem tomados”.

As agências de risco avaliam a situação econômica do país para determinar se o selo de “bom pagador” é apropriado ou não. Por isso, indicadores ruins e ambiente econômico de incertezas em um país podem gerar uma tendência de rebaixamento da nota.

Sem o grau de investimento, muitos investidores estrangeiros não podem mais aplicar dinheiro no Brasil. Também pode acontecer a saída de recursos aplicados atualmente.

A situação ocasionaria então uma “fuga” de capital do país. “O que significa na prática é que um país que perca o grau de investimento não vai mais poder contar com recursos desses fundos de previdência, e isso pode significar uma fuga de capital”, diz De Conti.

O que muda efetivamente na vida das pessoas?

A fuga de capital internacional tem um “efeito em cascata” para a economia, como aponta Alex Agostini. “O efeito cascata seria a menor geração de emprego, alguns desarranjos na política econômica. O mercado entende já que vão entrar menos dólares no Brasil e o preço sobe, que é o que está acontecendo agora. Então, os produtos importados ficam mais caros. Vai ficar mais caro para quem se utiliza de produtos de saúde, por exemplo, que é um setor que importa muito. O mesmo ocorre com máquinas e fertilizantes para o setor agrícola”, diz Agostini, explicando que a situação agravaria a inflação.

O economista também aponta que menos investimentos pode afetar o poder aquisitivo das pessoas. “Isso torna a vida do cidadão comum mais difícil para conseguir emprego ou amenta o risco de perder o emprego”, diz.

O que muda para as empresas?

Agostini aponta que a perda do grau de investimento não impede que o país seja alvo de investimentos de empresas interessadas em abrir unidades no Brasil. Porém, a perspectiva de retorno para essas empresas é menor e, por isso, o volume de capital investido tende a diminuir.

“A empresa que antes tinha uma perspectiva de retorno de 10% a 15% passa a ter expectativa menor. Isso porque, se ela investir aqui, dado que esse país vai receber menos recursos, o potencial de consumo do país diminui. Então, os produtos que a empresa iria ofertar no mercado não vão mais ter aquele preço, a quantidade não pode ser a mesma. Isso impacta no retorno esperado pela empresa e ela pode reduzir o volume incialmente previsto”, diz o especialista.

Ele aponta que isso implica em menos geração de empregos. “US$ 1 bilhão investido tem um determinado número de pessoas que seriam empregadas. Com um volume menor investido, naturalmente esse número também será menor.”

G1

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