terça-feira, 23 de setembro de 2014

Artigo: E agora, Camilo?

A pesquisa de intenções de voto para governador do Ceará divulgada pelo Instituto Datafolha neste sábado, dia 20 de setembro, apresenta um quadro preocupante para Camilo Santana (PT) e é motivo de alegria para Eunício Oliveira (PMDB). Mas não deve servir de desespero para o primeiro nem de comemoração para o segundo porque a eleição ainda não está definida. Vejamos por quê.

Depois da queda acentuada apontada pela segunda pesquisa Datafolha, Eunício Oliveira teve de fazer uma campanha mais agressiva, com mais gente na rua com bandeiras, adesivos e propostas de campanha, e, acertadamente, procurou colar sua imagem à de Tasso Jereissati, o qual tanto está isolado na primeira colocação na corrida para o Senado como vem crescendo desde a primeira pesquisa, chegando agora a 58% das intenções de votos para Senador no Ceará. Dessa forma, Eunício estancou a perda de votos, mas não cresceu nem um ponto a mais, ou seja, ninguém deixou de anular o voto, desistiu de apertar a tecla branco ou mudou o voto de outro candidato para votar em Eunício Oliveira. Esse é um dado preocupante para o candidato do PMDB.

É preocupante para Eunício porque Camilo Santana ainda tem espaço para crescer apesar de ter reduzido o ritmo de crescimento que apresentou na última pesquisa. Camilo, que crescia 28 mil votos por dia, passou a crescer apenas 8 mil. Porém, atentem para a palavra: cresceu. No entanto, esse novo ritmo de crescimento de Camilo só lhe daria, no máximo, mais três pontos percentuais até o dia da eleição, o que ainda significaria vitória de Eunício no primeiro turno.

Outro problema para Camilo Santana é que ele cresceu tirando votos de Eliane Novais, Aílton Lopes, e dos indecisos – este um campo a ser explorado –, sem conquistar sufrágios entre os que decidem votar branco ou nulo, e, pior que tudo, não tirou mais nenhum voto de Eunício Oliveira. Dessa forma, não foi possível alterar o quadro eleitoral a ponto de provocar um segundo turno, aliás, situação que só ocorreu uma vez (em 2002) na história do Ceará.

Para garantir sua eleição já no primeiro turno, além de explorar os pontos negativos de seus adversários, Eunício Oliveira tem de aumentar ainda mais seu volume de campanha para suportar o trabalho dos seus adversários, que deverá se intensificar ao extremo, como ocorreu na eleição última eleição para prefeito de Fortaleza. Veja que Cid Gomes já pediu licença para se dedicar à campanha e Roberto Cláudio já aparece com mais frequência puxando a campanha na capital cearense.

Camilo Santana, por sua vez, tem que encontrar uma forma de fazer com que seu programa eleitoral televisivo chegue aos eleitores da maior parte do interior do Ceará, os quais, à exceção dos moradores do Cariri, só assistem a TV por meio de antenas parabólicas, não captando as imagens de Camilo na sua casa. É importante levar em consideração que Camilo cresceu muito em Fortaleza e Região Metropolitana, onde esteve tecnicamente empatado com Eunício Oliveira, por força da televisão, perdeu votos, e agora tem que melhorar seu programa para reconquistar os eleitores perdidos.

Se nos próximos dias perceber que pode não chegar ao segundo turno, a campanha de Camilo poderá adotar uma campanha mais dura, com fortes críticas e desqualificação de Eunício Oliveira.

Mais ainda, se quiser chegar ao segundo turno, Camilo tem de convencer os indecisos, que representam 13% dos entrevistados. Estes, somados aos 8% de brancos e nulos, mostram que 21% dos cearenses não estão satisfeitos com os candidatos que lhes são apresentados.

Camilo Santana também encontra muita resistência no voto masculino, onde fica 12 pontos percentuais atrás de Eunício Oliveira. Além disso, quanto mais velho o eleitor, menos voto Camilo tem. Eunício perde para Camilo no eleitorado de 16 a 24 anos de idade.

O fato mais grave para Camilo Santana é ver que na pesquisa espontânea ele só subiu um ponto, de 18% para 19%, ao passo que Eunício Oliveira saltou de 19% para 25%. Para quem quer ir para o segundo turno isso é preocupante.

A queda de Eliane Novais de 4% para 3% e a de Aílton Lopes de 2% para 1% mostram uma forte polarização da política no Ceará, dividida entre ser a favor ou contra os Ferreira Gomes. Os próximos dias podem vir recheados de muita surpresa.

Prof. Dr. Nabupolasar Alves Feitosa
Doutor em Ciências Sociais: Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

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