quarta-feira, 30 de abril de 2014

Servente de pedreiro, filho de ministro

João
Sandro trabalha em um bar de 20h às 7h do dia seguinte. Recebe pouco mais da metade do que os outros garçons para realizar o mesmo serviço. Pior, um serviço maior. É africano, tem visto de estudante e, pela legislação brasileira, nessa condição não pode trabalhar.

Essa é a situação dos estudantes estrangeiros: trabalham para garantir o pagamento da faculdade e não serem deportados. Com a diferença de que são, em sua maioria, empregados na informalidade, a situação vivida pelos africanos no Ceará é uma reafirmação da condição do próprio negro cearense no mercado de trabalho.

"É pegar qualquer serviço. Tem que se sujeitar. Você tem um objetivo, corre atrás. Termina muito cansado. Mas temos que enfrentar. Se temos um sonho, precisamos entender que aqui é temporário", afirma o garçom moçambicano, estudante de Direito.

Serviços básicos, como auxiliar de almoxarifado, garçom, faxineiro e servente de pedreiro são assumidos por jovens até com uma escolaridade maior do que brasileiros no mesmo setor. Mas é também a realidade do negro brasileiro, que precisa ter mais escolaridade que um não negro para equiparar os salários, o que não é garantido.

A África é um continente tão diverso em seus 54 países que alguns podem, cultural e politicamente, parecer mais com o Brasil do que com outro país africano. Também é mais rápido sair do Senegal para o Brasil, por exemplo, do que para a África do Sul. Mas a maior parte das singularidades se perde e é resumida à "cor negra - condição estrangeiro". Por motivos legais ou não, africanos têm sofrido com a precarização do emprego no Ceará, com pouco dinheiro e direito de escolha.

"Apesar de algumas peculiaridades, como em alguns casos a impossibilidade de formalizar a vaga trabalhista, o perfil de empregabilidade do africano está muito parecido com o do negro do Ceará", afirma o economista Manuel Gomes, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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