Um dos últimos cangaceiros do bando do histórico Lampião – que aterrorizava fazendeiros e saqueava comércios no Nordeste brasileiro, no início do século passado – foi enterrado, na manhã deste 7 de setembro, em Belo Horizonte. Aos 100 anos, Antônio Inácio da Silva, o “Moreno”, afimava já estar cansado de viver e pedia descanso.
Neli Maria da Conceição, 60, filha de Antônio, contou que o pai sofria depressão há três anos. A tristeza maior veio depois que Durvalina Gomes de Sá, sua mulher e também cangaceira morreu, aos 92 anos, vítima de um acidente vascular cerebral, em 2008. Em seguida, problemas de saúde limitaram as atividades do cangaceiro e há cerca de um ano ele passou a usar uma cadeira de rodas. “Já estava se sentindo fraco. As doenças e a morte da minha mãe lhe tiraram a vontade de viver”, disse. Moreno morava no bairro Tupi, região Norte de Belo Horizonte, com um dos seis filhos. Ele acordou na manhã de anteontem, tomou café da manhã, deitou-se de novo e morreu.
Apesar do centenário, a memória não falhava e Antônio adorava lembrar dos seis anos que viveu ao lado de Lampião. “O Cangaço era o assunto sempre”, disse a filha.
Fogos. Antes do sepultamento, no cemitério da Saudade, região Leste da capital, parentes e amigos assistiram a uma chuva de fogos de artifício. Um dos filhos do cangaceiro leu um texto em homenagem ao pai. O cineasta cearense, Wolney de Oliveira, que finaliza o longa-metragem “Os últimos cangaceiros”, contou que os fogos foram um pedido de Antônio. “Ele queria isso por ter sobrevivido aos tempos de Cangaço. Naquela época, cangaceiro morto pela polícia era degolado e a cabeça era uma promoção ao policial”, contou.
Inácio Carvalho Oliveira, 72, filho deixado pelo casal em Tacaratu (PE), era um dos presentes no enterro. Ele lembrou do encontro com o pai e a mãe, em 2005.”Foi a primeira vez que vi os dois, aquele momento não vai morrer”, disse o filho do cangaceiro.
Jornal O Tempo
Um comentário:
Algumas vezes eu fico pensando e me perguntando: Será que a existência de um ser supremo existe mesmo? Ou será que este universo foi criado do acaso, como afirmam os astrônomos?
Moreno foi um dos que mais matou e algumas vezes castrou (ele não confirmava) seres humanos. Usou o seu poder de coragem e fogo, na intenção de vingança, ódio e vencer o inimigo de qualquer jeito. Com tudo isso que ele fez, chegou a viver um século (parabéns, Moreno), permitido pelo pai celestial. Não foi julgado aqui na terra. Não sei se foi por Deus. Mas pela justiça humana, não. Viveu paparicado (no bom sentido) diante dos repórteres, escritores, pesquisadores, jornalistas e talvez, até mesmo por pessoas que direta ou indiretamente foram prejudicados pelo poder do bandoleiro.
A justiça humana se omitiu de punir todos os cangaceiros que haviam participado do movimento social de cangaceiros, lei criada no governo de Getúlio Vargas.
Reservei para você Moreno, meus parabéns por ter vivido 100 anos, oisa que não é para qualquer um. Que sorte hein! Viveu anos sob a mira de assassinas almas, e você com o seu malabarismo, foi se erguendo, se erguendo, se protegendo e finalmente conseguiu se livrar das mortíferas e pesadas armas.
Parabéns pelos 100 anos vividos.
José Mendes Pereira – Mossoró-RN.
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