domingo, 28 de setembro de 2008

Vaquejada ganha espaço nas cidades do Interior

Na época da ocupação do sertão nordestino a partir do século XVIII, a criação extensiva de bovinos permitiu a existência dos tradicionais vaqueiros vestidos em roupa de couro e montados em cavalos para reunir o gado, solto, em grandes extensões de terra. As pegas de gado deram origem às atuais vaquejadas. A modernidade transferiu do campo de matas nativas adversas para as pistas dos parques de vaquejadas, a disputa que virou esporte caro e organizado.

A vaquejada ganha espaço nas cidades do Interior. Aliada às bandas de forró eletrônico, o evento ocorre com maior freqüência durante o segundo semestre, período seco, distante da quadra invernosa. Os promotores buscam o lucro. O público quer diversão. Os vaqueiros correm atrás do boi e dos prêmios de alto valor.

O número de participantes, de competidores e o valor da premiação variam segundo o tamanho da vaquejada. Mas em todas elas, há um traço em comum. Além da origem histórica, a derrubada do boi, puxando o animal pelo rabo. De acordo com o escritor cearense José de Alencar, em 1874 aparece o primeiro registro de informação sobre vaquejada. O autor de “Iracema”, escreveu sobre “a puxada de rabo de boi”, no Ceará, e deixava claro que tal atividade já ocorria há algum tempo.

Acontecia no Ceará e em outros Estados do Nordeste, afinal, o modo de criação de gado era comum na região. O historiador e pesquisador Câmara Cascudo também fez referência à derrubada de boi pelo rabo e dá como origem a Península Ibérica, Portugal e Espanha. A jornalista Kátia Campos, observa que no sertão nordestino, desde a colonização, o gado sempre foi criado solto. “A coragem e a habilidade dos vaqueiros eram indispensáveis para que se mantivesse o gado junto”, observou. “O vaqueiro veio tangendo os bois, abrindo estradas e desbravando regiões”, diz ela.

Os vaqueiros foram os grandes desbravadores do sertão nordestino. A cultura resistiu e se transformou numa tradição movida pela paixão. Um exemplo é do aposentado Alvandir Salvino Cruz, que há três anos começou a construção de um parque de médio porte na Vila Moreira, na cidade de Acopiara. Neste ano, realizou a segunda vaquejada, no fim de semana passado. “Ainda não tive lucro, mas o que me motiva é o amor pelo gado e pelo sertão”, disse. “Precisamos manter essa tradição”, conclama.

Calendário anual

Alvandir Cruz defende a organização dos donos de parques e a definição de um calendário anual de eventos para evitar coincidências e prejuízo. “No fim de semana em que nós realizamos a vaquejada, aconteceu outra no vizinho município de Quixelô”, contou. “Isso atrapalha e traz prejuízo”. O promotor de vaquejada acredita que para o sucesso é preciso a união de três fatores: bons vaqueiros, gado e patrocínio.

No outro lado da vaquejada, estão os vaqueiros mais preocupados em obter os primeiros lugares na disputa. A maioria participa com patrocínio, isto é, há grandes proprietários e empresários que fornecem o cavalo, pagam as taxas de inscrição e outras despesas. Outros são abastados, dono de fazenda e do animal. Participam por conta própria. Esse grupo forma a minoria de competidores.

Abdon Maia, 26 anos, começou a derrubar boi há 10 anos, na cidade de Jaguaretama. “Para ser vaqueiro tem de ter muita vontade, agilidade e força”, diz. Disputa para o fazendeiro Pedro de Assis Peixoto. “Já ganhei dez prêmios”. Em média, participa de dez vaquejadas por ano. “A nossa vida é boa e participamos de vaquejada porque gostamos”. Nas horas vagas, trabalha em uma pequena fazenda da região.

Edval Pinho é experiente. Tem 50 anos de idade e 29 anos como vaqueiro. “Comecei aqui, em Acopiara, no Sítio São Paulino”, conta. “Para ser vaqueiro é preciso ter coragem, um bom cavalo, jeito e um bom batedor (esteira, aquele que auxilia na derrubada do gado)”. Pinho observa que vaquejada hoje é um esporte caro. “Tenho cavalo próprio e já ganhei vários prêmios, uns 70 troféus”.

No ano de 2004, Pinho foi o grande vencedor da vaquejada de Quixeramobim. “Foi emocionante”, lembra. “A vida de vaqueiro é sofrida por ficar muito tempo fora de casa, mas é gostosa”. Além de vaqueiro, Edval Pinho exerce a função de funcionário público.

Ivo Teixeira, 39 anos, começou a puxar boi com apenas 14 anos de idade. A coragem juvenil o impulsionou às provas. “É preciso treinar muito”, observa. “Sem ter um bom cavalo, que é caro, ninguém consegue ganhar nada”. Teixeira observa que as vaquejadas são momentos de disputa, mas de muita alegria e de tensão nervosa. “São festas que agradam as pessoas e trazem renda para o município”. Participa por ano de 30 vaquejadas no Brasil. “A gente faz o que gosta”.

DN

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