
Tênis, camiseta, calça jeans. Sorriso tímido e carinha adolescente. Ítalo Rafael Nogueira, 16, e os irmãos Everton, 17, e Hemerson Praxedes de Souza, 19, passariam despercebidos como jovens comuns para a idade, não fosse um detalhe: o gosto pela música erudita. De violoncelo, violino e viola, respectivamente, na mão, esses moradores da cidade de Iguatu, a 385 km de Fortaleza, já dão os primeiros passos na carreira musical. No último domingo, os meninos foram os responsáveis pela abertura do X Festival Eleazar de Carvalho, no Teatro Celina Queiroz, quando executaram músicas do repertório do compositor austríaco Joseph Haydn (1732 - 1809). O nervosismo foi grande, afinal, eles estavam sós no palco. "Mas eu não sei o que acontece com a gente que, quando está lá em cima, passa", conta Everton, que, ao lado dos dois colegas, recebeu a equipe do Vida & Arte, no Campus da Unifor, na última segunda-feira. Enquanto bolsistas do festival deixavam a tarde ensolarada ainda mais musical, tocando os mais diversos instrumentos em meio aos bosques da universidade, os três falaram sobre a paixão pela música, a carreira e os sonhos. Alunos destacados da Escola Eleazar de Carvalho, formada há três anos na cidade natal do maestro, Everton, Hemerson e Ítalo estrearam nos palcos na edição passada do evento em Fortaleza, acompanhando a Orquestra de Iguatu. Depois, no fim do ano passado, voaram para apresentações em São Paulo e Santos. Recentemente, foram escolhidos pela organizadora do festival e viúva do maestro, Sonia Muniz de Carvalho, para representar a Escola de Iguatu num trio de cordas. As experiências têm servido de incentivo para os três adolescentes. Mas nem sempre foi assim. Segundo os meninos, quando a escola de música chegou à cidade, foi uma novidade que muita gente estranhou. "Ninguém tinha visto uma coisa parecida. O povo ainda hoje está se acostumando", conta Hemerson. "Já falaram que música é hobby, que não dá dinheiro, só dá realização pessoal. Mas, para mim, é uma profissão como outra", define. Filhos de um contador e uma instrutora de artesanato, os irmãos Praxedes contam com o apoio da família, apesar do impacto inicial que a escolha causou. Além da música, eles se dedicam ao culto na Assembléia de Deus e também ajudam o pai no escritório de contabilidade. Parecem comportados, não gostam de festas nem de futebol e preferem reunir os amigos para tocar. Hemerson, inclusive, é o guitarrista de uma banda de pop-rock gospel da cidade. E a paixão pela música é tanta que Everton já deixou de lado a idéia de ser odontólogo e Hemerson de tornar-se bacharel em Ciências da Computação. O mais tímido do trio, Ítalo, nunca tinha ouvido falar de violoncelo na vida quando entrou na escola de música. "Fui para aprender violão, mas só tinha vaga para outros instrumentos e acabei ficando", lembra. Filho de um cantor de música sertaneja e de uma secretária, ele não faz planos para a carreira, mas garante que não pretende fazer outra coisa. "Penso muito com os pés no chão. Quero mesmo é estudar". Quanto aos sonhos, os meninos têm resposta na ponta da língua. "É tocar numa grande orquestra", diz Hemerson. "Quem não quer tocar numa Osesp ou numa Filarmônica de Berlim?", complementa Everton. O futuro dirá.
O Povo
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