A pouco mais de um ano da disputa pela reeleição do governador Elmano de Freitas, o Partido dos Trabalhadores (PT) vive um momento interno de tensão e, ao que tudo indica, de transição de poder no Ceará. A ascensão de uma nova força interna, chamada de Campo Popular, começa a redesenhar a hegemonia na legenda, provocando rearranjos de alianças e embates silenciosos entre as principais lideranças do partido no Estado.
A corrente Campo Democrático, liderada pelo deputado federal José Guimarães, detém a maioria atual no PT cearense em razão da expressiva base de filiados. O tamanho dessa maioria faz com que o grupo detenha a presidência estadual do partido, atualmente com Antônio Conin, também ligado a Guimarães. O grupo tem se mantido no controle da sigla no estado em razão da força numérica e da estrutura consolidada nos diretórios do interior.
Em Fortaleza, entretanto, essa hegemonia tem sido dividida com a corrente Campo de Esquerda, liderada pela deputada federal Luizianne Lins. Ex-prefeita da capital, Luizianne comandou por muito tempo o diretório municipal, justamente por reunir a maior parte dos filiados na cidade, a principal praça política do estado.
Uma nova força na disputa interna
O xadrez, entretanto, está em vias de ser modificado com a articulação do novo grupo. Desde março, lideranças próximas ao governador Elmano e ao ministro da Educação, Camilo Santana — lideranças centrais da base governista — passaram a organizar o chamado Campo Popular.
O grupo reúne nomes como a senadora Augusta Brito, o deputado estadual Acrísio Sena, o ex-vice-governador Professor Pinheiro e o ex-deputado estadual Antônio Carlos, hoje cotado para comandar o PT em Fortaleza. Há dezenas de vereadores e também prefeitos do Interior.
A proposta do novo campo é representar um segmento do partido até então fora das principais correntes, com forte vínculo com o atual governo. Nos bastidores, a movimentação tem alterado o equilíbrio de forças e tensionado as relações internas.
Embate em franca ascensão
Embora tenha fechado um acordo com o Campo Democrático para apoiar a reeleição de Antônio Conin ao comando estadual, o Campo Popular não aceitou ceder a maioria dos cargos na disputa pelo diretório, como exigia o grupo de Guimarães.
Com isso, as duas alas caminham para uma disputa direta na composição do diretório estadual, enquanto mantêm a candidatura de Conin para a presidência. Nessa disputa, o Campo de Esquerda, ao que tudo indica, terá a vereadora de Fortaleza Adriana Almeida como concorrente, mas as chances de êxito, segundo fontes desta Coluna no PT são consideradas remotas.
Poder na capital também em jogo
O embate se estende à capital. Em Fortaleza, o Campo Popular cai lançar Antônio Carlos à presidência municipal com o provável apoio do Campo Democrático, em mais um movimento que isola a corrente de Luizianne Lins, ameaçando pôr fim a uma hegemonia que durou anos no diretório da maior cidade do estado.
A disputa ocorre no contexto do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, que acontece no início de julho e envolverá seis votações: presidente e diretório nacional, estadual e municipal. A eleição será decisiva para definir os rumos do partido no Ceará — e os bastidores revelam que a tensão vai muito além da escolha de dirigentes.
Há um esforço ativo das correntes para atrair mais filiados e garantir hegemonia. Esta Coluna apurou que acordos paralelos têm provocado migrações silenciosas de lideranças entre os campos, tendo em vista a chegadas de novas lideranças da Capital e do Interior ao partido desde 2022.
O pano de fundo dessa reorganização interna é claro: o controle da máquina partidária para as eleições de 2026 e 2028. Com Elmano buscando a reeleição e o grupo de Camilo Santana mantendo protagonismo, o PT cearense se prepara para um novo ciclo político — e a disputa atual definirá quem sentará na cabeceira da mesa nos próximos embates eleitorais.
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