O volume de dinheiro desviado de aposentados e pensionistas era tão grande que as entidades associativas que recebiam os recursos precisavam encontrar diferentes caminhos para desová-los e esvaziar os próprios cofres.
As investigações da Polícia Federal apontam que até mesmo uma funerária era usada para receber transferências de dinheiro para sepultar supostos aposentados mortos. de acordo com a PF, duas entidades e uma funerária, com sede no Ceará, revolucionaram o esquema de lavagem do dinheiro.
BLOQUEIO DE R$ 496 MILHÕES
Com base nos dados do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a Polícia Federal descobriu, como destaca uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo, edição deste sábado (9), que a empresa Global Planos Funerários recebeu R$ 36,3 milhões de duas entidades envolvidas no escândalo do INSS.
Um total de R$ 34 milhões, segundo a Polícia Federal, saiu dos cofres da Caap (Caixa de Assistência aos Aposentados e Pensionistas) e outros R$ 2,3 milhões da Aapen (Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional).
Os indícios de lavagem do dinheiro desviado dos aposentados e pensionistas levaram a Justiça Federal a expedir mandados de busca e apreensão nas sedes das entidades e bloquear até R$ 147,3 milhões da Caap, R$ 147,3 milhões da Global e até R$ 202 milhões da Aapen.
MORTES FANTASMAS
As investigações da Polícia Federal apontam, ainda, que a empresa Global cobrava até R$ 4.000 por serviço funerário. Ao longo de um período de três anos (2022, 2023 e 2024), os recursos repassados à empresa custearam o sepultamento de, pelo menos, 8.713 pessoas, ou seja, 19 associados por dia.
Um dos questionamentos da Polícia Federal, durante as investigações, era como as entidades associativas mantinham intacto o número de filiados que recolhiam contribuições mensais, mesmo diante de tantos óbitos. Outro indício de que os óbitos eram falsos é que, na realidade, nenhuma das duas associações investigadas oferecia plano funerário a seus associados.
LAÇOS FAMILIARES
A Polícia Federal descobriu laços familiares entre dirigentes de entidades e de empresas beneficiados com o dinheiro oriundo dos descontos indevidos dos aposentados e pensionistas. Segundo a PF, a Global Planos Funerários pertence a José Lins Neto, ex-presidente da Caap e vinculado à Aapen.
No curso das investigações, a Polícia Federal recebeu dados do COAF que a Funerária Global repassou R$ 12 milhões para a Clínica e Laboratório Máxima Saúde Ltda, que tem entre os sócios o genro da tesoureira da Aapen, Maria Luzimar Rocha Lopes. A reportagem do UOL cita que a funerária Global teve o CNPJ encerrado na Receita Federal no dia 1º de abril deste ano, menos de um mês antes da operação da PF.
“Difícil entender uma prestação de serviços funerários para a Global pela empresa Máxima Saúde bem como o elevado montante de recursos que justifique tal transferência”, destaca a Polícia Federal no relatório, ao constatar, ainda, que, com base nas informações do COAF, a tesoureira da Aapen recebeu R$ 700 mil em transações suspeitas.
DESCONTOS SEM AUTORIZAÇÃO
As investigações da Polícia Federal revelam que, no início de 2024, a Caap possuía 265,4 mil associados com descontos na conta do INSS, enquanto a Aapen tinha 382,4 mil, sendo que todos deram as autorizações, supostamente, durante o ano de 2023.
Os números da CGU (Controladoria Geral da União) e da Polícia Federal revelam, ainda, que a Aapen recebeu R$ 81,9 milhões com descontos de associados desde 2019, e a Caap, R$ 48 milhões. Segundo a PF, as duas entidades eram presididas pela advogada Cecília Rodrigues Mota. Nenhum dos dirigentes das empresas e associações, segundo a reportagem do UOL, respondeu aos pedidos de informação.
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