quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Alfabetização alcança nível adequado em todas as cidades do Ceará

O alicerce da educação de crianças e adolescentes está naquilo que é fundamental para entender todo o resto: as letras e os números. Naquelas, os estudantes cearenses têm evoluído: pela primeira vez, o Estado atingiu nível adequado de alfabetização ao término do 2º ano do ensino fundamental em todas as cidades com 92,7% de efetividade. Os dados são do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece), cujos resultados de 2019 foram divulgados ontem (11) pelo Governo do Estado, durante a entrega do Prêmio Escola Nota Dez a 362 escolas públicas cearenses.

As provas do Spaece são aplicadas desde 1992, e identificam o nível de proficiência e a evolução do desempenho dos alunos da rede pública. Em 2019, pela primeira vez, todos os municípios cearenses atingiram nível “desejável” de alfabetização de crianças ao fim do 2º ano do Ensino Fundamental. Em 2007, quando a primeira prova foi aplicada, 47,5% dos estudantes concluíam a série sem saber ler nem escrever ou com alfabetização incompleta, enquanto apenas 29,9% dos alunos terminavam o 2º ano alfabetizados. Hoje, o cenário é distinto: 92,7% das crianças cearenses chegam ao 3º ano fundamental sabendo ler e escrever. O nível de proficiência da rede no Spaece alfa foi de 210,4 pontos, 29 a mais do que há cinco anos.

Alunos do 5º ano do ensino fundamental também mostraram evolução no aprendizado das letras: 58% deles atingiram desempenho adequado em língua portuguesa, em 2019, e apenas 15% tiveram resultados críticos ou muito críticos. Em 2008, apenas 7% dos estudantes avaliados tinham desempenho adequado. Já no ano passado, dos 184 municípios cearenses, 125 apresentaram desempenho “adequado”, e outros 59, “intermediário”. Nenhum teve situação considerada crítica ou muito crítica. O nível de proficiência na disciplina somou 234,9 pontos, acima dos 225 necessários para um resultado considerado positivo.

Entre os estudantes maiores, no 9º ano do ensino fundamental, os resultados na avaliação mais recente de português foram adequados para 24% dos estudantes, críticos no grupo com 26% e muito críticos para 11%. Cenário positivo em comparação com os dados de 2008 quando apenas 3% conseguiram aprender no nível adequado, 44% deixaram a modalidade de ensino em nível crítico e 37% na classificação muito crítica. Quando observado os índices do Estado em 2019, nove municípios estão em situação adequada, 154 na classificação intermediária, 21 na crítica e nenhum na categoria muito crítica. O nível de proficiência em português ficou em 263,6 neste ano.

Desafio

Já nas exatas, o ensino ainda engatinha: seis a cada dez alunos passam para o ensino médio com nível crítico de aprendizado em matemática. Em 2019, um a cada quatro estudantes do 5º ano tiveram aprendizado crítico ou muito crítico na disciplina, enquanto menos da metade (44%) atingiu o nível desejado. O nível de proficiência dos alunos cearenses, ano passado, ficou em 241,6 pontos, considerado “intermediário” na escala estabelecida pelo Spaece: o ideal é acima de 250 pontos. Apenas 78 municípios tiveram desempenho “adequado”; 103, “intermediário”; e três, “crítico”. A evolução, porém, ainda que vagarosa, existe: em 2008, apenas 4% dos estudantes avaliados tinham desempenho adequado na ciência exata.

Ao concluir o ensino fundamental, 15% dos estudantes alcançam o nível adequado de aprendizado enquanto 34% passam em nível crítico e 27% em nível muito crítico, de acordo com os resultados do ano passado. Em 2008, apenas 1% chegavam ao resultado adequado, 34% ficavam em nível crítico e a maioria, com 54%, concluia o ensino fundamental em nível muito crítico. No Ceará, 10 cidades estão no nível adequado, 48 no intermediário e 126 na classificação crítica - o Estado alcançou proficiência de 263,4.

Durante a divulgação dos resultados, o governador Camilo Santana reconheceu que o cenário dos anos finais do ensino fundamental é “bastante preocupante”. “Estamos construindo caminhos para melhorar o ensino de matemática, que é o nosso grande desafio, principalmente no 9º ano do ensino fundamental. Estamos avançando, mas ainda é preciso muito”, apontou.

Premiadas

Entre as mais de 300 escolas premiadas pelo bom desempenho no ensino fundamental, apenas uma foi de Fortaleza: a Escola Municipal Professor Luís Costa, no bairro Luciano Cavalcante, com desempenho destaque no 2º ano. O município de Sobral, por exemplo, referência em educação no Ceará e no Brasil, teve 22 instituições premiadas. As escolas-destaques receberão R$ 2.000 para cada aluno avaliado, enquanto as unidades “que ainda precisam melhorar seus resultados” serão apoiadas com R$ 1.000, conforme a Secretaria da Educação (Seduc).

Na Capital, professores, pais, alunos e gestão devem definir como o prêmio conquistado pelas duas turmas do 2º ano, com 50 crianças, deve ser aplicado. “É fruto do trabalho de toda a comunidade escolar, do compromisso das professoras, da coordenação pedagógica, com distrito de educação, a SME (Secretaria Municipal de Educação) e dos projetos que a gente tem aqui na escola”, reflete a diretora Carmênia de Paula.

Esse reconhecimento também contribui para a motivação da equipe no aperfeiçoamento do aprendizado dos estudante. “Nós pretendemos continuar avançando porque sabemos que quando a criança consegue ter o letramento, esse senso crítico, tem mais chances e conseguir um bom emprego e melhorar a vida. Nós somos da comunidade e é um prazer muito grande ver aquele aluno pequenininho que já sabe ler e conhece os gêneros textuais: é a base”.

Metodologia

O planejamento voltado ao igual alcance dos estudantes e o acompanhamento familiar são os fatores que garantiram o 1º lugar entre as turmas do 5º ano da rede estadual à Escola Vicente Antenor, como celebra o diretor Osmarino Ribeiro. No distrito de Rafael Arruda, em Sobral, 720 estudantes foram matriculados no último ano letivo, avaliado pelo exame, e também receberam premiação pelos resultados das turmas de 2º, 5º e 9º ano. “Nós seguimos uma trilha: aulas de tempo integral no ano inteiro, melhores professores por área, aulas aos sábados e feriados e apoio das famílias, que é muito importante e elas contribuem”, atesta o gestor.

São feitas reuniões semanalmente entre os docentes, prática continuada de forma remota, para avaliação das metodologias empregadas e do resultado dos estudantes. “Todos têm uma estratégia diferenciada, um novo ensino, temos de saber a dinâmica de compartilhar todos esses conhecimentos e ver qual a dificuldade de cada aluno. No planejamento específico, a gente monta a estratégia para aquele aluno que está (com desempenho) mais fraco ou que não estava acompanhando”, explica. Com a necessidade de ensino remoto, é disponibilizado material impresso para as famílias sem acesso à internet.

A Escola não alcançou os índices ideais quando avaliada a habilidade dos estudantes com os números, diante da defasagem de profissionais na área. “Mas a gente vai colocando estratégias porque a gente tem as outras disciplinas também”, pontua Osmarino.

Formação continuada

Os resultados evidenciam os aspectos a serem trabalhados para a efetividade do ensino, como analisa a doutora em Educação, Juscileide Castro. "O foco tem que ser na habilidade, no que o estudante precisa aprender, e não só na avaliação. Se ele desenvolve as habilidades, consequentemente os descritores serão atingidos. A Seduc tem feito um trabalho, mas não se faz do dia pra noite. Já há avanços em relação à matemática. Se observarmos os dados, existem muitos estudantes que não têm os conhecimentos mínimos necessários. Nos últimos anos, embora ainda insuficiente, tem havido melhorias no aprendizado de matemática", observa.

Alunos mais preparados com as habilidades básicas de ensino começam pela outra ponta: capacitação dos professores e promoção da boa qualidade de trabalho. "Eu apostaria na continuidade da formação de professores e na valorização deles, talvez essa seja a grande diferença de Sobral. Este ano de certo modo tem sido importante pra mostrar que não é só falta de acesso à tecnologia, é sobre a importância todo professor na vida do estudante. Infraestrutura é importante, claro. Mas se eu não tiver um professor engajado, formado e preparado, muita coisa não vai modificar", conclui a especialista.

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