domingo, 7 de março de 2021

Ventania volta a destruir bananal em Iguatu

O drama de produtores de banana nas várzeas do Rio Jaguaribe, na cidade de Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará, volta a se repetir, com prejuízos elevados para o setor. A causa é a mesma e ocorre quase todos os anos: forte ventania, que derruba os pés e destrói os frutos. Este fim de semana foi dedicado ao cálculo de perdas e arranquios de pés e cachos caídos.

Iguatu é um dos maiores produtores de banana do Ceará das espécies nanica (casca verde) e pacovan (prata). Tem cerca de 700 hectares cultivados. Desse total, 300ha são da variedade pacovan. A metade, segundo a secretária de Desenvolvimento Agrário de Iguatu, foi atingida pela ventania e a queda da plantação chegou a 60% da área afetada, ou seja, 90ha.  

A pasta vai concluir o prejuízo total na manhã desta segunda-feira (8), após trabalho de campo, mas estima perdas em torno de R$ 6 milhões. O secretário de Desenvolvimento Agrário, Venâncio Vieira, frisou que o problema é “uma tragédia anunciada que atinge desde 2010 a variedade pacovan que tem porte alto, que atinge até seis metros, caule fino, e torna-se frágil sem suportar ventos fortes”. 

O milheiro da pacovan é vendido atualmente por R$ 265,00. “Quando um pé é destruído aquela área passa mais de um ano para produzir novamente”, ponderou Venâncio Vieira. “O prejuízo não é só o que se perde de imediato, mas a queda total de um ciclo de safra, perdas futuras”.

O produtor Francisco Pereira de Macedo, na localidade de Barro Alto, zona rural de Iguatu, perdeu quatro hectares de um total de seis cultivados em uma das áreas atingidas pelo vendaval.

Francisco Gomes também sofreu prejuízo. “Estava com um hectare em bom desenvolvimento, mas mais da metade caiu e não se aproveita mais”, disse. “A gente insiste nessa variedade porque tem mercado favorável e bom preço”.

O secretário Venâncio Vieira lamenta a resistência dos produtores em mudar de variedade. “As bananas prata rio, catarina e apodi têm pês mais fortes, porte baixo e caule grosso, que suporta o vento”, ponderou. “A gente orienta, sugere a mudança, mas muitos não aceitam”.  

O produtor Carlos Vieira Palácio disse que sabe do risco, e por isso optou por outra variedade mais resistente e até agora não sofreu com ventania. “Só planto casca verde e prata apodi e o vento nunca derrubou nenhum pé”, contou. “Não quero saber de pacovan de jeito nenhum”.

Ventanias
Os ventos fortes sobre as áreas de cultivo de banana começaram a ser registrados a partir de 2013. Anteriormente, pouco se falava sobre o problema. De lá para cá, o fenômeno vem se repetindo praticamente a cada ano, mas é mais comum ocorrer na segunda quinzena de dezembro.

“Neste ano, foi uma surpresa”, pontua Venâncio. Sobre alternativa de proteção ao plantio da fruta, ele explicou que a barreira natural ou artificial – plantação de árvores, por exemplo, para tentar evitar a passagem do vento nas áreas produtivas “não é viável porque as faixas de terra de cultivo da fruta são estreitas e quando o vento penetra sai derrubando os pés em efeito dominó”.

Dificuldades relacionadas com o preço do produto e prejuízos com ventania fizeram com que pelo menos 20% dos fruticultores desistissem da atividade ou reduzissem a área de cultivo.

Um deles foi o produtor Armando Souza, que cultivava mais de cinco hectares da variedade pacovan.

Prejuízos
Em 2013, cerca de 50 hectares de banana foi atingido por uma ventania, causando prejuízo de R$ 1 milhão. Em dezembro de 2014, um vendaval afetou 285 hectares e 120 produtores, causando uma perda de R$ 7 milhões.

No ano seguinte, o fenômeno se repetiu, destruindo 200 hectares e deixando um prejuízo total de R$ 5 milhões. No mês de dezembro de 2017, fortes ventos causaram a destruição da plantação e deixaram perdas de R$ 2 milhões para cerca de 100 fruticultores.

No ano de 2018, cerca de 100 hectares foram afetados, na localidade de Maurícia, e o prejuízo estimado foi de R$ 2,1 milhões. Dezembro de 2019, marcou mais uma vez o fenômeno que destruiu plantio de bananas da variedade pacovan nas várzeas do Rio Jaguaribe, nos municípios de Iguatu e Cariús. O prejuízo foi estimado em cerca de R$ 2 milhões.

Diário do Nordeste

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