segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Após câncer, criança doa parte do cabelo para confecção de perucas a pacientes, no Ceará

Um ano e nove meses depois de nascer, Ana Melissa enfrentou o desafio de sobreviver após ser diagnosticada com neuroblastoma, tipo de câncer que surge nas glândulas acima dos rins. O processo, como relembra a mãe, Francisca Edna Silva, 51, foi longo – tanto que o hospital se tornou casa durante um ano inteiro. “Em 2010, ela fez uma cirurgia, teve um AVC, passou pela UTI e recebeu o diagnóstico. Na primeira semana de 2011, começaram as sessões de quimioterapia. Ela perdeu todo o cabelo, nessa época”, relata. Hoje, com 11 anos, a menina enfrenta uma nova suspeita da doença.

Os cabelos de Melissa já emolduram o rosto. A imagem do espelho, porém, não foi a primeira estampada na mente quando ela resolveu, “do dia pra noite”, cortar o cabelo e doar à Associação Peter Pan (APP), que atua no tratamento de câncer em crianças e adolescentes, em Fortaleza. Para ela, doar uma parte de si foi uma forma de chegar ao outro – e transformá-lo. “Decidi doar porque não gosto das pessoas tristes e carecas. Vi o pessoal triste, sem cabelo, internado, e falei pra minha mãe que queria doar meu cabelo pra elas. Acho que elas vão ficar felizes quando receberem”, revela.

A atitude voluntária de Melissa foi, para a mãe, um presságio. “Eu fiquei impressionada, porque chegaram a oferecer R$ 450 pelo cabelo dela, há um ano, e ela não quis vender. Uma semana atrás, ela começou com essa ideia de querer ‘cortar e doar pros carequinhas’. Ontem, dias depois, ela fez uma ultrassom e tem vários linfonodos no pescoço. Fiquei pensando: Senhor, será que ela tava adivinhando isso?", preocupa-se Edna, temendo o retorno da doença à vida da filha.

Além da mecha de cabelo da adolescente, a autônoma Francisca Edna guarda outras três para levar à APP. “Tenho amigas que têm salão de beleza, arrecado as mechas e levo pra lá. Fui a um salão e uma moça tinha duas mechas pra vender, aí quando contei a história da Melissa ela resolveu foi doar. Ao todo, já tô com quatro mechas. Mês passado, levei sete pra associação”, orgulha-se a mãe-militante, depositando – e recolhendo um tanto – no abraço da própria filha a esperança de uma cura como presente de Natal.

G1 Ceará

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