quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Choveu fino em Acopiara nesta madrugada. Este ano completa 100 anos da seca do 15.


Uma chuva fina na madrugada de hoje (05) em Acopiara serviu para amenizar o clima e trazer novas esperanças de um bom inverno este ano. O tempo permanece bastante nublado sobre a Terra do Lavrador com possibilidade de mais chuvas.

Centenário da "Seca do 15"

Este ano completa o centenário de uma das secas que mais assolou o nordeste brasileiro: a seca do ano de 1915, mais conhecida como Seca do 15. Tal data foi tão traumática, face à desgraça sofrida pelo nordestino do semiárido, que até hoje é lembrada como sinônimo de sofrimento, de retirante, de fome e de miséria. Este cenário serviu de inspiração para o ingresso de Rachel de Queiroz, a primeira mulher da Academia Brasileira de Letras, na literatura, ao retratar todo o flagelo da seca daquele período. 100 anos após tal martírio, o sertanejo, com os olhos encharcados, vislumbra os céus na esperança de encontrar algum sinal de chuva, rogando a Deus que, em mais um milagre, desminta os prognósticos científicos dando conta de mais um ano com uma quadra chuvosa abaixo da média, completando três anos seguidos.


Sem, talvez, a mesma fé de outrora, eis que cada vez mais raro as procissões, um cenário um pouco diferente, é bem verdade, desta feita com motocicletas substituindo cavalos; benefícios sociais garantindo uma renda mínima, evitando, assim, saques no comércio e retirantes; algumas ações de cisternas e barragens; o que amenizam o sofrimento, a seca ainda é um fato que, por ausência de decisão política mais contundente e firme, tem ensejado sofrimento nos rincões deste sertão. Toda uma economia construída em muitas famílias sertanejas durante uma vida está sendo desfeita com esta situação climática, restando, às vezes, somente dívidas.

O certo é que, mesmo sabendo ser a seca um fenômeno natural e cíclico no semiárido, com reiteradas histórias de sofrimento, contadas principalmente pela literatura, é lamentável que, apesar do advento de todo um aparato tecnológico, essa problemática de convivência no semiárido ser tratado sem a prioridade merecida, especialmente pela classe política, de todas as esferas, apesar de referido tema ser recorrente na retórica desde os tempos imperiais, deixando dividendos políticos, o fato é que as ações concretas são menores ao anunciado, além de que prevalece, ainda, a chamada “indústria da seca”. Apesar de o sertanejo, como afirmou Euclides da Cunha em Os Sertões, ser, antes de tudo, um forte, por ser sinônimo de resistência a todas as adversidades, desde as naturais como as climáticas até mesmo as estruturas arcaicas de poder marcada pelo “paternalismo”, com novas “roupagens” de apadrinhamentos políticos, é mais do que na hora de retirar das páginas de nossa história a perpetuação de sofrimento decorrente da falta de água, que é, indubitavelmente, fruto muito mais de decisões políticas do que entraves técnicos.

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