terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Escassez afeta maior açude do Estado e causa prejuízos à população

"A nossa situação é cada vez pior. Muitos já desistiram de criar o pescado em gaiolas, não dá mais. O peixe está sem valor, a ração está cara e o açude secando, com água sem qualidade e sem condições de continuar com a atividade". O lamento é do piscicultor, Laudo Clementino, que desde 2011 iniciou um projeto de produção de tilápia no Açude Castanhão, o maior do Ceará.

O pranto do piscicultor, no entanto, não é isolado. É um grito geral. Maiúsculo. Que ecoa, há anos, por entre as 184 cidades cearenses. Nos últimos oito anos, o sertanejo foi duramente castigado pela seca. A água que caiu do céu, com volume e força, nos anos de 2008 e 2009, cessou. O líquido que vinha das nuvens, passou a vir dos olhos. O agricultor chorou, o rebanho morreu e a vegetação foi igualmente castigada.

A crise hídrica se alastrou e mudou o cenário do Estado. Para mostrar essa realidade, o Diário do Nordeste visitou sete cidades do interior cearense. Foram mais de 1800 quilômetros percorridos. O especial "Águas do Céu" retrata, durante as próximas cinco semanas, os efeitos da seca no Ceará, resgata a memória do sertanejo quando o Estado viveu anos com chuvas acima da média e traz a esperança de novos tempos. O desejo é que o grito uníssono de súplica transforme-se em alívio e agradecimento. Mas, se as chuvas finalmente virão, isso só o tempo irá dizer...

Castanhão

A crise se agravou a partir de 2016 quando houve uma mortandade quase generalizada no reservatório. A perda de volume de água inviabiliza a produção de tilápia, a principal atividade econômica do município de Jaguaribara. O reservatório, responsável pelo abastecimento de Fortaleza e Região Metropolitana (RMF), além do médio e baixo Jaguaribe, hoje, acumula menos de 4% de seu volume.

Apesar de todas as dificuldades, o sentimento de esperança persiste entre os piscicultores. "Confio em Deus e quando esse canal chegar (transferência das águas do Rio São Francisco) tudo vai mudar e melhorar para todos", espera Laudo Clementino.

O também piscicultor Carlos Antônio da Silva foi incisivo: "O Castanhão parou, a piscicultura está se acabando". Há oito anos, Silva mantinha em sociedade com Laudo Clementino, 300 gaiolas, mas atualmente está com apenas 100. "Era uma atividade boa, a gente conseguia tirar sete mil quilos por mês, mas agora a produção é inferior a dois mil quilos", detalha.

A queda na produção de pescado reflete diretamente na diminuição da renda dos piscicultores. O quilo da tilápia era vendido por R$ 8,00, mas foi reduzido para R$ 6,50. A atividade permitia um lucro livre em torno de 30%. "Hoje a gente só tá fazendo dois salários mínimos por mês", pontuou Carlos Silva. "Nunca imaginei que o açude Castanhão fosse ficar com pouca água assim", afirma, espantado, o agricultor Pedro Lima. "Essa é a pior crise que já vi em minha vida".

A secretária de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Pesca do município, Lívia Barreto, avalia que a cidade está mais pobre com a paralisação dos criatórios de pescado de forma intensiva no Castanhão. O setor movimentava R$ 7 milhões por mês. A queda no comércio é superior a 30%. A produção estimada era de 20 mil toneladas por ano de tilápia, no reservatório. "Enfrentamos uma crise econômica grave", frisou.

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