sexta-feira, 1 de junho de 2018

A malandragem da língua: cearense de Acopiara, J.B. Serra e Gurgel lança 9ª edição de seu "Dicionário de Gírias", compilando mais de 30 mil verbetes

Image-0-Artigo-2406545-1As gírias mostram como uma língua permanece viva. Com o português não é diferente. Um dos idiomas mais ricos e diversos, ele conta com mais de 500 mil palavras, contabilizadas nos vários dicionários existentes.

A língua portuguesa se completa com mais de 30 mil palavras que escapam aos dicionários mais sisudos. Exatos 34.268 verbetes estão presentes no livro "Dicionário de Gíria: modismo linguístico, o equipamento falado do brasileiro", de J. B. Serra e Gurgel.

Jornalista veterano, natural de Acopiara (CE), o autor acaba de lançar a 9ª edição do dicionário, editado de forma independente. A obra pode ser adquirida direto com o autor, pelos e-mails: serraegurgel@gmail.com ou gurgel@cruiser.com.br. São 820 páginas, documentando e explicando o significado de gírias hoje obscuras e em desuso e outra, no auge da moda.

Em Portugal, a gíria era chamada de calão (daí a composição de baixo-calão, como sinônima do palavrão). O primeiro dicionário de gírias da língua portuguesa data de 1712 e teve que passar pelo tribunal da Santa Inquisição. O número de verbetes, claro, era limitado. Algumas das palavras ali reunidas, curiosamente, seguem sendo usadas.

Redes sociais

As gírias famosas das redes sociais, claro, estão no livro. "Fiz uma pesquisa com jovens que dominam essa linguagem nova. Algumas palavras que estão no dicionário aparecem em inglês mesmo. Eu respeito a grafia original. Essa incorporação é feita porque o Brasil e todo o mundo está fazendo isso", explica J.B., referindo-se à disseminação dos estrangeirismos em ambiente digital.

"A juventude já faz uso desse linguajar, estou dando curso a uma atualização da língua", ressalta o autor. O modismo, nome que se encontra no subtítulo do livro, é um dos eixos da obra, sem que seja visto de forma negativa. Observar a moda serve para pontuar uma importante mudança linguística. "O modismo é uma coisa que ajuda na difusão da gíria, elas vão e voltam. Há verbetes que surgiram há 300 anos e foram incorporadas na língua portuguesa", detalha.

A internet dá continuidade à já antiga relação entre a gíria e as mídias. Jornais populares, a televisão e o rádio, outrora hegemônicos, ajudaram a disseminar estas novas expressões da língua.

Terreno fértil

As questões de gênero, um território de embates acalorado, no livro, é um terreno fértil. Gírias relacionadas às mulheres contabilizam 1.645 verbetes. A ideia "mulher bonita" tem relacionada a ela 125 termos; "mulher feia", outros 122. Para se referir aos "homossexuais", são 329 gírias.

O propósito desta compilação, explica o autor, não é o de reforçar as discriminações. "Nós, que trabalhamos com dicionário, não estamos preocupados com essa visão estereotipada dada pela sociedade, nossa obrigação é registrar tudo. Não podemos nos ater a questões de qualquer ordem, ao politicamente correto", defende o autor.

Dentre as mais de 30 mil palavras registradas no dicionário, 2.613 são originárias do Rio de Janeiro. Em segundo lugar se encontra o Ceará, com 656 palavras listadas.

São Paulo é o terceiro estado a contribuir na escrita do dicionário, com 403 verbetes. Do Distrito Federal listam-se 252 gírias, 206 de Minas Gerais, 206 da Bahia, 191 do Amazonas, 110 de Paraná, 109 do Pará, 103 de Goiás. Maranhão soma à lista 55 jargões, Rondônia, 46, Pernambuco, 39, Espírito Santo, 37 e Paraíba contribui 32 verbetes.

"O regionalismo é um dos maiores contribuintes do mostruário das gírias. O regionalismo, quando ele é restrito a sua região, não é uma gíria. Mas quando ele transcende e se torna uma palavra que, em qualquer lugar onde se fala, é entendida, aí temos uma gíria", pontua J.B.

Finalizam os registros das gírias Roraima (7) e Alagoas e Acre, cada uma com 5 palavras marcadas no manual. Além das regiões brasileiras, o dicionário usa termos de Angola, Portugal e Moçambique, fazendo do "Dicionário de Gírias" um material rico para futuras pesquisas.

Ceará

O cearense, nascido em Acopiara, ressalta que a nossa presença é muito forte em todo o Brasil. Sua pesquisa exaustiva sobre as invencionices linguísticas do País o ajudaram a ter uma dimensão disso.

"É uma cultura muito rica. A contribuição do Ceará no contexto da gíria é muito grande. Têm muitos livros editados nessa maneira. O cearense gosta de se fazer conhecer e muita coisa no Estado acaba virando gíria falada não só no Nordeste, mas também até no Sul do País", finaliza.

Livro

Dicionário de Gíria
JB Serra e Gurgel

O livro pode ser adquirido pelos e-mails gurgel@cruiser.com.br e serraegurgel@gmail.com

Independente
2018, 820 páginas

R$ 75 (frete incluso)

Diário do Nordeste

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