quinta-feira, 2 de julho de 2015

Poeta Moreira de Acopiara e a paixão pelo cordel

Cearense morador de Diadema, Manoel Moreira Júnior, conhecido como Moreira de Acopiara, começou a escrever poemas ainda quando adolescente. Cercado de livros de autores como Olavo Bilac e Castro Alves, o cordelista foi alfabetizado pela mãe, na cidade de Acopiara, interior do Ceará, onde viveu até os 20 anos, e em 1982 desembarcou em São Paulo.

Integrante da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, o poeta já publicou cerca de 300 cordéis e mais de 20 livros, além de ter ministrado oficinas sobre o gênero literário para detentos do Centro de Detenção Provisória de Diadema durante quatro anos.

Diadema Portal: Quando começou a escrever?

Moreira de Acopiara: Com doze anos de idade eu já gostava de ler, desenhar e escrever inocentes historinhas baseadas nos ingênuos desenhos que fazia. Gostava de ganhar brinquedos, mas ficava mais alegre quando ganhava livros, cadernos, lápis de cor e canetas. Lia A turma da Mônica, Tio Patinhas e revistinhas TEX. Na sequência fui apresentado à poesia de Castro Alves, Olavo Bilac, Casemiro de Abreu e Patativa do Assaré. No meio disso tudo sempre tinha cordel. Foi aí que me familiarizei com as rimas e com a metrificação, antes de ler Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e Graciliano Ramos, clássicos que enriqueciam a estante lá de casa, fundamentais para mim até hoje.

D.P: Por que escolheu escrever literatura de cordel?

M.A: Acho que eu é que fui escolhido pelo cordel, que fazia muito sucesso lá na minha região. Isso por vários motivos. Primeiro: tem enredo curto e poucos personagens, o que facilita o entendimento. Segundo: as rimas e a metrificação facilitam a memorização. Terceiro: é muito barato. Quando meus pais não tinham trinta ou quarenta reais para comprar um livro, tinham ao menos três ou cinco para comprar um folheto de cordel.

D.P: Qual foi a principal dificuldade no início da carreira?

MA: Aquelas comuns em todo começo. No meu caso foi tranquilo porque não tinha ilusão de ganhar dinheiro com poesia ou com livros. Escrevia para mim mesmo, fazia cordel e publicava porque gostava. Somente depois de vários folhetos publicados e cinco livros é que os caminhos foram se desenhando, as portas se abrindo e as oportunidades aparecendo.

D.P: Com qual poema de sua autoria o senhor mais se identifica?

M.A: Gosto de todos, especialmente os mais recentes. Alguns já viraram clássicos, caso de “Idades”, “Mercês tomando banho”, “A bicicleta”, “Anos dourados” e “Perseguição”. Outro que diz muito para mim é “Ser poeta popular”, que fiz depois que alguém me perguntou o que é ser poeta popular.

D.P: Qual é o tema que mais gosta de tratar em suas publicações?

M.A: Não tenho tema predileto. Vivo de olhos e ouvidos bem abertos para o que está acontecendo ao redor do mundo, e quando me apaixono por algum tema, faço primeiramente um projeto aqui na minha cabeça e começo a escrever. É um trabalho de formiguinha.

D.P: O senhor ministrou oficinas de cordéis na penitenciária de Diadema. Como foi realizar o trabalho?

M.A: Trabalhei nesse importante projeto durante quatro anos, entre 2010 e 2013. Depois mudou a administração municipal, vieram outras cabeças e as dificuldades. Então o contrato não foi renovado. Foi uma pena, gostava muito desse trabalho. Aquela gente também precisa de afago, independentemente dos erros cometidos. Era onde menos eu ganhava, mas era também onde mais gostava de trabalhar, e me sentia realizado.

D.P: Quantas aulas eram por mês e quantos detentos participavam das oficinas?

M.A: Ficava seis dias, uma hora por dia, com um grupo de 30 reeducandos. Tempo suficiente para produzir um texto tradicional, com participação do grupo, depois de falar da origem do cordel, sua chegada ao Brasil, os precursores, principais nomes de ontem e de hoje, principais temas, sua importância na formação na cultura brasileira. Tivemos momentos maravilhosos, produzimos alguns textos muito bons que até hoje estão sendo utilizados pelos demais professores lá dentro.

D.P: Quantos cordéis e quantos livros publicados?

M.A: Perdi a conta dos cordéis que publiquei. Mas o número já beira os 300, isso se contarmos os que fiz por encomenda para empresários, políticos etc. Com relação aos livros, há pouco saiu o vigésimo primeiro, “A Divina Comédia”, adaptação em cordel do clássico de mesmo nome, do italiano Dante Alighieri, que fiz a pedido da Editora Nova Alexandria.

D.P: Qual será o próximo trabalho?

M.A: Tenho alguns projetos em andamento. Para breve deve sair uma segunda edição ampliada e revista de “O sertão é o meu lugar”, agora com 440 páginas. Trata-se de uma coletânea de poemas, esses que faço para declamar nas minhas apresentações Brasil afora. “Atitudes que constroem” também está pronto e deve ir para a gráfica nas próximas semanas. Terminei também, e já entreguei para a Cortez Editora, “A criação do mundo”, que deve sair no primeiro semestre de 2016. Trata-se de um livro escrito tendo como base contos e lendas.

Por Felipe Duarte
Diadema Portal

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