segunda-feira, 25 de maio de 2015

'Luciano falou: 'A gente vai cair'', conta Angélica sobre pouso forçado

Os apresentadores Luciano Huck e Angélica deram uma entrevista exclusiva nesta segunda-feira (25) ao repórter José Roberto Burnier, do Jornal Nacional, e falaram sobre o pouso forçado ocorrido neste domingo (24) perto de Campo Grande (MS).

“Foi um milagre porque tudo quebrou, menos a gente. Eu ainda não consegui dormir porque eu fecho o olho e fico vendo tudo de novo”, disse Angélica. “As cenas são muito reais, muito fortes, nunca tinha tido uma cena recorrente que você fecha o olho e vê ela”, afirmou Huck.

Luciano teve uma fissura pequena em uma vértebra torácica. E Angélica distendeu três músculos pequenos que são ligados à bacia e o músculo da cervical, da nuca. Não houve fraturas. Os dois receberam alta na noite desta segunda-feira (25).

Os três filhos do casal e as babás Marcíleia Eunice Garcia e Francisca Clarice Canelo Mesquita, que os acompanhavam, também passaram por exames e foram liberados na noite de domingo.

Confira trechos da entrevista:

MILAGRE

José Roberto Burnier: O que foi que aconteceu?
Huck: Foi um milagre, a gente encarou como um milagre, foi o renascimento da família toda. Para a gente agradecer.

MINUTOS ANTES DO POUSO

HUCK: A gente estava voltando em direção a Campo Grande. O Benício do meu lado, o Joaquim na minha frente, a Angélica e as duas babás e a Eva estava brincando pelo avião. Aí o avião deu uma bundadinha de lado. Eu gosto de aviação, olhei, o piloto estava mexendo na bomba de combustível, eu olhei o painel, vi que um motor estava apagado. Só posso agradecer, ele salvou a todos nós.
Burnier: Neste momento, como estava o clima no avião?
Huck: Nesse momento, a Angélica se desesperou, estava gritando muito já, o Joaquim estava gritando muito, o Benício estava tenso, quieto. A Angélica gritava, dizia "quero que pouse".
Angélica: Ele virou para mim, estava muito pálido. Eu falei “A gente vai pousar?” “Não, a gente vai cair. Abaixa”. A gente abaixou. Quando olhei, um dos lados apagou, um dos motores, e o avião embicou. Eu olhei para ele, eu vi que a gente estava caindo e meu filho gritava muito: 'eu não quero morrer'. Eu entrei em pânico.
Burnier: O que passou na sua cabeça neste momento?
Angélica: Passou na minha cabeça que a gente ia se machucar muito ou morrer. Passou na minha cabeça rápido que eu preferia, então, que a gente não se machucasse. Fez um silêncio na cabine enquanto estava batendo no chão, a primeira batida, a segunda, a terceira. Era um barulho ensurdecedor, mas um silêncio muito grande no coração. A lembrança que eu tenho é que como se a gente tivesse morrendo mesmo, um silêncio, algo estranho.

MEDO

José Roberto Burnier: Alguma vez na sua vida você sentiu pavor parecido?
Angélica: Nunca, nunca, mas eu também nunca tive tanta fé ao mesmo tempo. Se eu já era meio carola, agora eu não sei o que vai acontecer comigo. Eu nunca tive tanta fé. Ele é uma pessoa de muita fé também, a gente tem religiões diferentes.
Huck: Quando terminou tudo, a gente disse, mas como agradece? Como faz para agradecer?

DORES

Huck: Eu estava com muita dor nas costas, mas eu sabia que não podia esmorecer porque eu sabia que tinha que resolver aquilo até estar todo mundo bem. A Angélica a gente sabia que era alguma coisa dentro porque ela chorava muito, ela não conseguia andar, se retorcia toda, ela estava muito nervosa e as crianças estavam bem. A Eva chorava muito, a gente achou que ela tinha se machucado por dentro, ela estava com uma marca na lateralzinha, mas foi a babá que apertou muito ela.
Angélica: E o Joaquim inchou o rosto na hora, mas porque bateu na janela.

CHEGADA AO HOSPITAL

Huck: Quando a gente chegou no hospital, ninguém tinha avisado ainda. Então, a gente parou o carro, desci com as crianças, a Angélica chorando e as pessoas olhando para a nossa cara, já foi estranho descer a família inteira, aí chegou, a gente caiu de avião, agora, faz 20 minutos.
A Santa Casa foi muito carinhosa dentro do que eles podiam. O hospital estava lotado.

VÉRTEBRA QUEBRADA

Burnier: Está com dor ainda?
Huck: Estou muito, mas eu estou melhor. Eu quebrei a 11ª vértebra, d11, mas não tem o que fazer.
Angélica: Na verdade, não pode fazer.
Burnier: Você gosta de fazer um monte de esporte radicais e tudo, vai ter que ficar quieto
Huck: Ficar quieto não faz mal a ninguém.
Burnier: Conversei com seu médico e você vai ficar um mês parado.
Angélica: Bom você ter me avisado isso, bom você ter me falado isso.
Burnier: A Angélica pelo menos 15 dias de molho
Angélica: Apanhei ontem, toda doída, mas tão feliz de estar bem, mas vou ter que ficar um pouquinho de molho, mas pelo que foi, a gente tem só que dizer que a gente está muito bem.
Burnier: Está com muita dor ainda?
Angélica: estou com dor aqui ainda um pouco porque distendeu e no pescoço também. Nos primeiros exames, eu sentia muita dor, quando a gente foi para o hospital, não conseguia andar e aí acharam que eu tinha machucado bem aqui, depois acharam que era o baço e tudo foi desaparecendo: não é isso, não é isso, até chegar a isso.
Huck: Ela bateu dos dois lados. Ela foi a que mais bateu de um lado e do outro.

SOLIDARIEDADE

Huck: Ontem, quando eu estava vindo na ambulância para cá, eu estava feliz. Bicho, do que a gente viveu aqui, está todo mundo vivo, nossos filhos estão bem. Não ia me perdoar jamais na vida se tivesse acontecido qualquer coisa com qualquer um dos meus familiares.
Angélica: A gente está aqui para contar né?
Estamos aqui para contar e agora é só se recuperar, agradecer as pessoas que nos ajudaram e agradecer a centenas de milhares de mensagens que a gente recebeu. Em tempos de rede social, as pessoas chegam a você.
Angélica: A gente recebeu muita mensagem de amigos e desconhecidos. Eu no hospital, lá em Campo Grande ainda, as pessoas vinham falar. Estava na ambulância, peguei o celular e tinha muita mensagem e todo mundo falava a mesma coisa, todo mundo dizia: parabéns, vocês viveram um milagre hoje, a gente está feliz, todo mundo com o mesmo discurso.

VOLTA PARA CASA

Angélica: A gente quer ficar com as crianças.
Huck: Eles precisam voltar para escola, voltar para vida
Angélica: Tem que voltar para a vida. A gente conversou com alguns psicólogos aqui do próprio hospital, porque a gente não sabia como que lida com trauma pós queda de avião. Não é todo mundo que vive isso.
Huck: Nosso [filho] do meio foi dormir com minha mãe no hotel ontem, aí do nada, começou a fazer um desenho de um avião pendurado por uns fios. Ele tem 7 anos, como processa numa cabeça de uma criança de 7 ou 10 anos um acidente aéreo? Não sei!
Angélica: Acho que hoje o que a gente tem que curar mais é o emocional, porque eu sou chorona
Burnier: Você conseguiu dormir?
Angélica: Eu ainda não consegui dormir, porque eu fecho o olho e fico vendo tudo de novo, fica passando como se eu tivesse assistido um filme.
Huck: As cenas são muito reais, muito fortes, nunca tinha tido uma cena recorrente que você fecha o olho e vê ela.
Angélica: Eu choro quando vejo todo mundo, eu choro de felicidade, de desespero um pouco do que a gente viveu e quando recebo alguma mensagem de alguém que eu conheço ou não conheço. Eu choro porque é muito amor também.

G1

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